.onírico.
- Gabriela Cavalheiro
- 28 de mar. de 2016
- 2 min de leitura
dos saberes dos sonhos minha pele também é de temperatura elevada constatada igualmente pelos acolhimentos nos braços de tantas rainhas que por cá passaram, passam e ainda hão de passar [como passarinhos, livres]
a cidade pode ser bruta, um contraponto a nossa necessidade de afeto e afago é isso que o sonho nos faz e traz: somos zepelim içado lá no alto, como pipas, sem compromissos, olhando totalidades, somos onipotentes, dirigimos cenas, tudo é possível e permitido. se a babilônia nos espezinha com suas engrenagens, é pelo sonho que podemos achar no canto das máquinas, espaços com flores e raízes, refúgios de respiros e reinvenções um suspiro do fundo do peito em meio a névoa e neblina
não sei se deixo claro no tato e no toque, mas me atrevo está escrito no corpo há que se fazer boas leituras para capturar e captar nuances das entrelinhas, ultrapassando as barreiras da casualidade. como sempre, necessário coragem, para se mostrar, para se ver. prefiro que me tomem como além da conta do que pelo tom morno [é sempre melhor sobrar que faltar]
planos fragmentados eram os da noite, enquanto deslizava pela correnteza dos quereres um pouco amolecida por quantidades etílicas. o céu não pode dançar sozinho, não é mesmo? valsavam sim nossos corpos no breu daquela noite, naquela negociação implícita, na dança, quem conduz e quem é conduzido, há quem controla o ritmo e quem controla os movimentos naquela noite com minhas retinas já adaptadas pela escuridão, nossos corpos eram banhados pela luz da lua, nossa única testemunha coloco meus braços para trás você se aproxima cada vez mais que pena não ter outro foco de luz que não os sexos pulsantes escorrendo seivas e salivas: queria registrar o momento a utopia de reter e rever a cena, descobrindo que há um ou outro elemento novo, para que não se percam as lembranças, que vão se perdendo e desfazendo aos poucos, apagadas pela ótica do tempo queria pendurar esses pedaços de existência em inúmeros cantos, decorando ambientes na memória toda uma vontade de agarrar o seu olhar e colocar teus olhos doces e sinceros pela cidade inteira: seu olhar cheio de candura derreteria um pouco da maldade dos dias, das más intenções
subo então, com cuidado, minhas mãos por entre teu corpo, o dia insistia em rebentar enquanto eu tentava, inutilmente, morar naquele momento. fui hóspede de alguns corpos, mas o dia sempre insiste em nascer, os ponteiros correm na esquina do tempo e são, por vezes, apressados, fazendo da estadia, rapidez. também pelas veias, vim, vivo, vou.
e por mais democrático que seja, é o desejo que dá certezas. e não só deitar o corpo em pele, mas a pele em corpo. o repouso no dorso é jogo de carinho e intimidade. por mais que haja um pouco de medo de transpassar você com minhas intensidades mesmo que seja só para ressoar por suas margens acho que o amor também é uma palavra suada entre meus dedos
durmo - até o mar precisa descansar
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