sobre
- Gabriela Cavalheiro
- 3 de fev. de 2016
- 2 min de leitura
nesse plano, sou fruto de pai pescador e mãe cigana, em outro, painho e mainha são guerreiros em todos planos, para todos os efeitos, sou metade sereia e marinheiro
num misto de homem e mulher eu tentei vestir o gênero o feminino não me coube e o masculino ficou muito grande
desde cedo ouvi por aí que é errado o desejo mas eu, desde cedo, aprendi com a ajuda de espelhos a conviver com meus desejos foi na surdina da rua e nas noites que aprendi a aceitar-me, ter coragem para ver e entender aquilo que sou, desconstruir-me
aceitei meus demônios, e com eles, aprendi que há também uma escrita no corpo, que marca como ferro em brasa. é uma linguagem específica, forte, um dialeto que a língua também forja, uma escrita com adornos, tão linda quanto todas outras também são, como o silêncio. aprendi com o centauro a treinar bastante para saber de todos os sons que capaz seria de tirar de meu corpo, notas graves e agudas, modulando todas as tonalidades, para que ninguém possa ser capaz de improvisar sobre minha carne. corpolítico, corpoético, corpotência, meu corpo é arma, escudo e cama.
meus maiores ensinamentos estão desenhados na parte de fora de meu corpo, para que eu jamais me esqueça (tenho sentimentos controversos com a saudade e a memória nessa curta trajetória), e também para que quem quiser ver, que veja
tenho um grande amor escondido em páginas de livro, e os mais secretos, ficam aqui dentro, escondidos dizem que não é tarefa fácil, mas uma vez que o caminho tortuoso é feito... não há volta fácil ou escapatória. eu também não me arrependo dos amores que tive ou dos corpos de mulher por quem passei, a todos fui fiel e a todos eu amei
aos poucos, como lama e barro vão se tornando escultura, aprendi com as curvas. tive a oportunidade de cair muitas vezes, e sentir o gosto de sangue na boca após ralar a cara no asfalto. nada como sentir o peso do desafio e grandes quedas para redefinir caminhos
reconhecer-se medíocre é também ser humilde, e a arrogância do ser humano não tem limites. faltam xamãs das classes sociais que façam transmissões e troquem significados entre mundos.
defini alguns valores, mesmo nunca entendendo muito bem os números: não quero o morno, o mais ou menos, o 'quase'. sou das intensidades celebrei nisso tudo a vida e a morte, e aprendi com a segunda sobre o real ciclo da agricultura - entender também o efêmero, o desapego, o instante. por isso as muitas flores espalhadas pelo meu corpo, rosas vermelhas, azuis e roxas
é doce de morrer no mar, e ele me ensina todo dia o tempo é rei nu e rainha
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